sexta-feira, fevereiro 13, 2004

TEM TODA A RAZÃO

Dias da Cunha: “Poder está a Norte”

António Dias da Cunha fez uma análise do futebol português durante a entrevista realizada por Judite de Sousa no programa “Grande Entrevista” da RTP 1.

O presidente do Conselho Directivo esclareceu que o futebol português “não está sereno há muito tempo e antes de Maria José Morgado ter falado de corrupção eu já o tinha dito. Há corrupção e há dinheiro sujo. A proposta do Sporting visa acabar com isso”. Para dias da Cunha, uma das formas pelas quais a corrupção se manifesta é a de “a contabilidade não corresponder à verdade”. Os dinheiros sujos entram nos clubes porque “há contabilidade criativa”. O presidente da SAD manifestou o desejo de que “houvesse disponbibilidade do poder público para pôr todos os clubes a viver da mesma maneira”.

Judite de Sousa quis saber o que era o sistema e o dirigente “leonino” esclareceu que “o sistema é um conjunto de relações entre pessoas, que estabeleceram cumplicidades que passam de pai para filho e que têm a ver com aquilo que é o verdadeiro poder no futebol, que é a arbitragem”. O presidente da SAD deu um exemplo de “cumplicidades”, que passam pela “cedência de jogadores e de treinadores”: “um dia perguntaram a um presidente de um clube quem gostaria que ganhasse o campeonato. Respondeu que pessoalmente lhe era indiferente, mas que gostaria que fosse o Sporting, para bem do futebol. No mesmo dia recebeu um telefonema, através de um amigo comum, do presidente de outro clube com o seguinte recado ‘vê lá se tens juízo, por causa dos jogadores nossos que tens emprestados’”.

Dias da Cunha acrescentou que “o poder é uma autêntica autocracia que neste momento tem duas caras: o senhor major Valetim Loureiro e o senhor Jorge Nuno Pinto da Costa. A estrutura em que assenta o poder tem estes dois rostos”. Instado a aprofundar a questão, Dias da Cunha explicou que “o poder sobre a arbitragem tem a ver com a carreira dos árbitros, que depende dos observadores. Os árbitros sabem que serem bem ou mal avaliados depende dos observadores. E quem designa os árbitros e os observadores é a mesma instituição” (NR, a Liga de Clubes). Por essa razão é que o Sporting defende que a arbitragem devia “sair da esfera da Liga de Clubes”. Para o dirigente, o sistema “prejudicou clarissimamente o Sporting neste campeonato e beneficiou o FC Porto. O Sporting podia estar à frente, se não tivesse visto seis pontos serem retirados – na primeira volta com o Moreirense e Marítimo – e o FC Porto ajudado”.

Para Dias da Cunha “o poder neste momento está completamente a Norte”. E, “as estruturas legais do futebol têm que mudar muito para poderem ser realmente a casa de todos nós, os clubes de futebol profissional”. O líder verde e branco admitiu que “perdi completamente as ilusões de que o sistema podia ser reformado por dentro”.
Em relação ao momento que se vive entre o Sporting e o FC Porto, Dias da Cunha fez questão de frisar que “os clubes não chegaram a uma ruptura. A ruptura é entre pessoas. Distingo o presidente do FC Porto do clube, dos adeptos, dos sócios”. Em relação ao presidente portista, o dirigente sportinguista afirmou que “tem duas facetas. Pode ser encantador e pode ser de uma dureza que ultrapassa os limites da boa educação”. A situação vivida antes do “clássico” também foi novamente explicada: “não podia permitir que a cedência do Sporting aos senhores da segurança do Euro 2004 pudesse parecer uma cedência ao senhor Jorge Nuno Pinto da Costa”. Dias da Cunha clarificou o uso da palavra “chaimites”, “um símbolo da liberdade conquistada com o 25 de Abril. Foi isso que quis dizer, que gostaria de ter chaimites para defender as instalações do Sporting”. Quem considerou que os adeptos do FC Porto são “vândalos foi o próprio presidente do FC Porto”, reiterou.

A deterioração das relações “começou muito antes, está tudo explicado numa entrevista ao Jornal Sporting”. A mudança nas relações não foi provocada pelo Sporting, “que tem coerência”. Confrontado com o facto de ter estado em Sevilha, na final da Taça UEFA, com um cachecol do FC Porto, Dias da Cunha explicou que “estarei com um cachecol de qualquer equipa portuguesa que chegue a uma final europeia”.

Judite de Sousa quis saber se o Clube tem provas do rasgar da camisola de Rui Jorge por parte de José Mourinho no final do encontro com o FC Porto. O líder sportinguista esclareceu que “tem todas as provas. Provas directas e indirectas. Existem imagens que sustentam e sustentarão os processos que vão decorrer em tribunal, além de muitas outras provas”. Questionado porque é que o Sporting não as mostra, Dias da Cunha explicou que “as provas guardam-se até chegar o momento certo. Porquê mostrar? Para julgamentos de rua?”.

A suposta aproximação do Sporting ao Benfica foi desmitificada: “o Sporting não se alia a nenhum clube contra nenhum clube”. Apesar de desejar que no domingo “o Benfica ganhe”.

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